Passatempo preferido

Uma calma boa, um amor correspondido. A serenidade de dois olhares, a seriedade do momento. A luz do sol entrando pela janela, passando pelas cortinas, iluminando nossos pés e afirmando a realidade do instante. O calor dos cobertores, a maciez dos travesseiros, o cheiro do nosso hálito após algumas horas de sono. Os cabelos enozados, os olhos colados. Os membros estralando, preguiçosos.
O toque das tuas mãos passando por todo meu corpo, acarinhando todos os pedaços de mim, inclusive minha alma. O doce dessa sensação é a melhor parte. A sensação de fazer carinho em todo o teu ser, é indescritível, nem adianta a minha tentativa. A luz que teus olhos refletem, consegue iluminar meu dia. Os abraços fortes e graciosos, a troca de olhares, de sentimentos, e palavras que não são ditas pelas nossas bocas. O fato de estarmos ali, deitados lado a lado, em cima ou embaixo, tanto faz. Cada centímetro dessas sensações faz valer à pena cada segundo. Vale ouro, vale diamante. Vale cada dia que vivi até hoje.
Estes momentos valem todas as vezes que chorei, que tive problemas de todos os tipos, que desperdicei meu tempo conhecendo pessoas inúteis pro meu coração. Vale cada dia que saí de casa cedo e cheguei tarde, e cada vez que me vi perdida em minha própria vida. Vale cada letra que digitei pra ti desde o dia que te reencontrei; cada palavra que falei, mesmo tendo tanta timidez. Valeu o esforço de ter te chamado pra sair. Valeu o esforço de ter esperado teu beijo urgente. Cada milímetro do meu corpo entrou em êxtase ao acordar do teu lado pela primeira vez. Já tive momentos legais, mas nunca tive momentos tão intensos. E, mesmo sabendo que você dormiu ao meu lado, é uma surpresa e uma satisfação acordar e ver que você está ali, abraçado em mim. E, quando você abre os olhos e me olha com aquele olhar de amor, eu perco a noção do tempo e espaço e me derreto, me solubilizo em um sentimento que nem conseguia me imaginar sentindo por alguém.
A luz do sol e a luz dos teus olhos. Acordar do teu lado, no momento, é o meu passatempo preferido. É o meu objetivo. É o que me faz mais bem. 

Somos

Um sentimento forte, desenfreado, ansioso. É o que tenho vivido nos últimos dias. Uma ânsia pelo que eu não sei explicar, uma ânsia de explicar o que não é explicável. Sentir isso dentro de mim é simplesmente devastador, mas, com certeza, no melhor sentido da palavra.
São os olhos; não tenho dúvidas. Os olhos mais lindos e transparentes que já tive a oportunidade de fitar. O olhar mais enebriante e desconsertador existente neste planeta. Olhos que me fazem refletir quando lembro, mas que quando presencio, não consigo sequer falar uma palavra. Simplesmente hipnotizantes.
Mas, podem também ser os lábios. Ah, esses lábios corados, tão apaixonantes. Fazem o encaixe perfeito entre tua barba e teu bigode. São o caminho perfeito para o amor. Não passam da perfeição em forma carnal. Que posso fazer diante deles, se não observá-los desejando beijá-los sem parar?
Acredito que seja, também, a voz. Voz forte, mas que transmite muita ternura. Querendo ou não, ouço sempre essa voz dentro de mim, lembro das palavras e da articulação das frases. Lembro do teu tom e do que ele provoca em mim quando o ouço. Lembro da vibração dos teus lábios quando esse som contagiante sai. Lembro de tudo.
Ainda não me convenci de que o cabelo não é responsável por isso. Ele é uma das minhas partes preferidas. Fico olhando e querendo alisar, afofar, fazer carinho. Desfazer os nós, puxar, cheirar. Nem sei dizer como posso ter tantos sentimentos por alguns fios de cabelo alheio.
Teu jeito é o que me faz surtar. Imprevisível, enigmático, engraçado e cauteloso. Às vezes deixa um recado pra mim que não consigo decifrar, mas com o tempo eu decifro, tenho certeza. Cada uma das suas características pessoais me fazem ter mais certeza do quanto te quero. De que escolhi a pessoa certa. A certeza de que eu sei o que estou fazendo e vale à pena fazê-lo.
Ouço ou leio teu nome e me vem algumas coisas nos pensamentos: meu grude; meu amor; meu bem; meu cheiro; meu lindo; meu palhaço; meu bobo; meu idiota. Não queria ter esse sentimento de posse, afinal ninguém possui ninguém. Mas é carinho, carinhosamente te quero só pra mim. Mas, te deixo livre a decidir meu bem querer. 
Descobri, com o passar dos dias, que uma história encravada no meu cérebro não era real. Acreditei que jamais encontraria alguém que gostasse de mim de verdade, que eu não sou uma pessoa suportável e amável. Não conseguia ver um futuro com alguém do meu lado. Muito menos pensar que eu amaria alguém novamente. Existia um bloqueio. Simplesmente todas as pessoas eram iguais, da mesma cor, da mesma altura, de mesma fisionomia, e todas entediantes e burras. Ninguém me interessava. Nem mesmo as pessoas que mais gostavam de mim. Depois de uma grande decepção, essas coisas acontecem com as pessoas. Mas, foi aí que encontrei um ponto de luz em meio às pessoas todas iguais. Alguém brilhando, latejando lá no meio, como uma vela acesa em meio à escuridão. Foi aí que descobri que talvez essa história que eu tinha pra mim, era uma grande mentira. Depois de um tempo, fui descobrindo que a luz em ti me acendeu também. Você foi capaz de fazer com que eu pudesse acreditar novamente no amor, acreditar que existem motivos pra acreditar. Todos os motivos listei, os quais me fizeram acreditar que poderia ser você. Que você poderia me fazer feliz; que eu poderia te fazer feliz também. Que eu não precisava ser apenas "eu" e tu, não precisavas ser apenas "tu". Poderíamos ser "nós". Acredito que somos. Do jeito que dá, do jeito que flui. Eu quero ser pra sempre "nós".

Vida de Solteiro

Sempre quis entender o que as pessoas querem dizer quando falam "aproveita a vida de solteira" ou quando simplesmente utilizam o termo "vida de solteiro", se referindo positivamente a essa situação.  Fico intrigada ao ver a expressão feliz no rosto da pessoa quando ela diz isso. 
Acho muito interessante a associação que as pessoas fazem com o término de um namoro. Geralmente elas incentivam a pessoa que está de "luto" a "aproveitar" o máximo que puder. Sair, beber, pegar geral e divertir-se como se não houvesse o amanhã. E talvez não há, não é mesmo? Mas, essa é uma discussão para outra hora.
Particularmente, vivo a vida de solteira de uma forma meio esquisita aos olhos dessas pessoas. Fico sozinha, leio, escrevo, vejo seriados e filmes. Não pratico a vida de solteiro comercializada entre meus amigos e conhecidos. Fico me perguntando se as pessoas que vendem essa proposta, sabem do que se trata. E sabem?
Cheguei a conclusão que não devem saber. Simplesmente imaginam a pessoa de férias em Cancún no Spring Break, tomando todas e fazendo orgias. Talvez acreditem que o dinheiro entra no bolso como mágica, pra gastar a noite toda, todo sábado, com bebidas e entradas em clubs super renomados. Pensei, também, que talvez os aplicativos de relacionamentos sejam super úteis e façam com que você não fique necessitado de sexo uma semana se quer. Que maravilha, não é mesmo?
Mas, após muito filosofar sobre o assunto, cheguei à conclusão de que a vida de solteiro não é nada mais do que a vida normal. Não há nada de mágico em viver sozinho. Você vive normalmente, como uma pessoa acompanhada só que desacompanhado. Não existe balada todo final de semana, nos clubs caros ou no Spring Break se você não for uma pessoa rica e maravilhosa (no que diz respeito ao esteriótipo socialmente cultuado). Não existe sexo toda semana se você pretende conversar e conhecer as pessoas primeiro. Não existe dinheiro entrando magicamente no bolso, não existe o cabelo lindo todo dia, não existem os dois mil amigos do Facebook te chamando pra sair o tempo todo, não existem os bons drinks nos bons bares sempre que dá pra passar lá depois do trabalho. Não existe um sorriso estampado no rosto 24h por dia. E quer saber mais? Não tem a obrigação de existir. A vida de solteiro é uma farsa.
A vida que existe é a sua, aqui e agora, do jeito como você é. Lendo seus livros preferidos, escrevendo se você gosta de escrever, dançando enquanto faxina seu quarto, cantando no chuveiro, pegando um ônibus pra ir ao trabalho ou a faculdade ou os dois. Existe você ouvindo suas músicas preferidas enquanto espera chegar ao ponto de desembarque. Existem os lugares mais bonitos da cidade pra você visitar e tirar fotos se gostar e, se não gostar, não precisa ir. Existem baladas sim, se você gostar.
O que tem que ficar claro, é que ninguém tem a obrigação de ser feliz quando entra pro clube dos solteiros após um término. Ninguém tem que agradar ninguém quando leva um pé na bunda. Nem a si mesmo! Temos que seguir, como um dia qualquer só que sem ninguém pra ligar no final do dia, ou alguém pra tomar um sorvete no final de semana. Não precisamos dormir de conchinha pra sermos felizes. Nem de satisfações da vida alheia pra nos sentirmos seguros.
Aproveite a vida pós término e transforme-a na sua vida, do seu jeito. O que vier é algo que será acrescentado, assim como o que já foi, como experiência na prateleira da tua alma.

Quem é o que?

Às vezes fico pensando que, nesse exato momento, existem bilhões de pessoas no mundo, fazendo coisas das mais diversas naturezas, falando ou dormindo, comendo ou escrevendo, ou fazendo um pouco de cada. Enquanto isso, eu faço aquilo que me interesso ou que me diz respeito, e me importo apenas com isso e nada mais. Quero dizer, me importo apenas se eu estou com fome, frio, sede, calor, vontade de caminhar, se posso dormir mais um pouco. Não me importo se o John lá na Inglaterra está com sono também ou está fazendo algo pra comer. Ou se as pessoas de um país pobre estão com fome, ou, ainda, se as pessoas de um país rico estão esbanjando nesse exato momento. Não nos preocupamos que existem mais bilhões de pessoas pensando, dentre elas pode até haver mais algum(a) doido(a) pensando como eu! E isso me atiça a curiosidade; essa pluralidade a que a humanidade está sujeita.
É extremamente curioso o fato de que não sabemos de ninguém além de nós mesmos. Só conseguimos, obviamente, pensar e agir por nós, mesmo que as atitudes interfiram nas vidas das outras pessoas. Quero dizer que podemos tomar água para saciar apenas a nossa sede; podemos comer e assim saciaremos apenas a nossa fome; podemos dormir, acabando, assim, com apenas o nosso sono. É curioso pensar que estamos todos num mesmo lugar, ou seja, o planeta Terra, mas aqui cada um é por si. Não existe condição de fazermos nada por ninguém dessa maneira. E esse mesmo pensamento, acaba nos tornando como um todo, em alguém que age e pensa apenas por si. E aí nasce, também, o egoísmo. Eu não quero saber se fulano quer conversar comigo, simplesmente EU não desejo conversar com ele. Tem gente passando fome? E eu com isso?
Em algumas pessoas, esse tipo de pensamento está sendo abafado, mas, na maioria da humanidade, existem bilhares de pessoas com este perfil. Não se importam se existem pessoas ao seu redor ou do outro lado do mundo que precisam de ajuda ou estão passando por alguma necessidade. Ninguém se importa se algo é importante para alguém, se existe uma crença envolvida, se existe uma cultura diferente, e isso também é um fator que influencia diretamente na ignorância e egoísmo gerados.
As pessoas simplesmente seguem andando, empinando o nariz ou cabisbaixas, andando rápido ou devagar, todas na mesma estrada, que leva apenas à um mesmo lugar, olhando, internamente, somente para o seu único umbigo. O que eu preciso, sinto, acredito, não acredito, opino, é o que vale e importa pra mim. Esse é o caminho mais solitário e destruidor que a humanidade pode seguir.

Nós


Assim como tantos outros, você se foi. Sumiu, não deu notícias, não me deu grandes explicações, não fez questão de me aquietar nem, se quer, de me fazer por satisfeita das tuas palavras vagas. Assim, como tantos outros, se foi para não me deixar feliz, seu plano bem sucedido foi. Agora estou aqui, na ansiedade da saudade das tuas doces palavras, dos teus ternos pensamentos, da sua paciência em ser quem é comigo. Saudade, também, da tua boca suja com palavreado vulgar, que me fez acreditar que você é como eu, com ressalvas. Estou aqui, como quem não quer nada, mas espera por tudo que tem direito. E, secretamente, vou desejar que você volte. Vou desejar que você esteja aqui e reaja quando eu tentar te beijar no momento que será o mais sentimental dos últimos tempos. Internamente, explodirei de felicidade por ter acreditado que você voltaria. E voltará. E voltou. Abraçarei teus olhos com os meus, agradecendo meu ser interior, que está afirmando meu desejo certeiro da tua volta, lá no fundo, que foi, existiu e é, desde o princípio, mesmo com tantas incertezas. No fundo, eu sabia que você voltaria, aceitaria esta ânsia novamente, pois teria certeza de que você voltaria. Mas não tenho. Não sou convicta, segura a ponto de ter essa afirmação cravada no meu coração. Sou humana, insegura, prestes à ter um ataque de nervos por algo que nem é tão importante assim, diante das coisas que deveriam ocupar meus pensamentos diariamente. Invadiste minha cabeça como o mar invade a areia da praia quando a maré está alta. Sem dó, sem planejar, sem culpa. Dentro de mim, impera o sentimento de culpa e também de pena, e isto é muito triste. Pena por mim, pena de ter acreditado e estar acreditando, no fundo, que você voltará. Pena de pensar que, novamente, verei teus olhos enfeitiçantes. Pena de mim, por pensar que você poderia ser como eu, e não é. Ninguém é. Ninguém vai corresponder às minhas expectativas, nem eu mesma seria capaz disso. Mas fica, sim, lá dentro, um resquício de esperança, a mesma esperança de desejar secretamente você de novo perto de mim. De desejar que eu possa te fazer sorrir em todos os momentos dos nossos dias, que serão eternidades, que serão infinidades de beijos, carinhos e amores. E nós; será sempre "nós", não importa o que aconteça.

Sentimento Deserdado


Frequentemente me deparo com um sentimento que não sei o nome. Ele sempre vem depois de uma

enorme euforia e antes uma profunda tristeza. É um sentimento totalmente insaciável, sem dúvidas, um dos mais difíceis de lidar. Tenho uma ânsia incontrolável em encontrar outros pensamentos que simpatizam com os meus, de encontrar as pessoas certas pra errar novamente, de fazer alguém interessante virar um completo avesso do que sou. Sim, consigo transformar as pessoas de vinho para água, não o contrário. Tenho a capacidade absurda de equilibrar o oco que tenho com a imensidão do universo e me mostrar o quão profunda pode ser minha experiência de não ser nada, não ter nada. Transformo um bem querer em algo que nem tem nome, porque simplesmente é. Alguém que está ali, que fico observando como uma menina fica olhando para uma boneca na loja, desejando, mas sabendo que não tem dinheiro pra comprar, que essa boneca não vai pertencê-la, mesmo que você já teve, algum dia, condições de comprá-la. Do mesmo jeito que eu consigo fazer com que o mais distante sentimento de alguém torne-se o mais próximo de mim possível, faço o contrário, com muito mais rapidez. Distancio sem querer distanciar, mas não querendo proximidade maior. Existe um espaço muito, muito pequeno entre o meu bem querer e o meu não querer mais ver pela frente. E eu estou sempre na corda bamba. Estou sempre buscando mais e mais e, no fim, nada me contenta, sempre acabo deslizando para o lado do limbo desse muro sob a corda bamba. Meus sentimentos não se fazem claros ou se fazem tanto, que chega a cegar quem se aproxima e, naturalmente, se distancia.
Não sei como consegui desenvolver esse sentimento sem família. Não compreendo sua origem, uma vez que, naturalmente, todos nós ansiamos pelo melhor, e eu acabo sempre tendo o pior de mim e dos que próximos estão. Bom seria se eu tivesse a chance de ser quem meus pensamentos planejam; quem eu sonho e quero botar em ação quando acordo, mas acabo sendo quem eu não queria. Sequer sei dizer se sou eu mesma ou se é outra projeção do meu inconsciente tentando me sabotar a todo custo. Mas é. E isso que sinto simplesmente me faz odiar minhas atitudes, minhas experiências e quem eu sou quando não sou o que planejo. Pois, se quem planeja tem a fineza de idealizar algo bom, porque algo ruim acontece no lugar? Significa que quem planejou não foi competente ou é o que aconteceu no lugar do plano perfeito?
De qualquer forma, acontece. Acontece pois deveria acontecer; acontece, pois eu não tive a decência de ser quem eu planejei. Aconteceu, e o sentimento deserdado vem em seguida, questionando tudo que sei, ou pensei que soubesse, devastando meus pensamentos com amarguras e recordações tristes, mas ao mesmo tempo trazendo um ar de concordância e conformismo, dizendo lá, na minha cabeça, que "Eu já sabia que isso aconteceria". E sabia.

Apaixonar-se

Me apaixono pelo fato de estar apaixonada. Nada é mais apaixonante do que sentir um sentimento tão lindo e ansioso. Preenche o coração, os buracos na alma e oculta as chagas que outros deixaram em nós. Me apaixono por alguém com a mesma intensidade que gostaria de ser apaixonante: alta frequência, baixa confiança e alta magoabilidade. Me apaixono não somente pelas pessoas, mas, principalmente, pelo que o "estar apaixonada" me proporciona.
Sorrisos, autoabraços, carinhos na alma, poemas escritos, textos narrados, pensamentos livres. Estar apaixonada é realmente incrível. Às vezes, a pessoa não é tudo o que quero, mas o simples fato de estar querendo a pessoa, o sentimento de pré amor que nasce sem necessidade ou obrigação, torna a vida mais fácil de ser vivida.
Cada dia, cada hora, cada minuto tem um pouquinho de paixão. As lembranças de memórias que nunca existiram, na paixão, fazem sentido, preenchem nossos pensamentos com intensidade sem igual. Coração fica feliz e acha que está fazendo tudo ficar um pouquinho mais colorido. Será apaixonar-se algo comparável à estar enfeitiçado? Dane-se, que me enfeiticem mil vezes. Não me apaixono somente pelas pessoas, me apaixono por mim quando estou apaixonada pelos sentimentos que sinto pelas pessoas. 
A maioria de nós, apaixona-se por vaidade. Quando a paixão acaba, vem um sentimento ruim de que poderia ter evitado tudo isso se não tivesse se apaixonado. Quando a pessoa não corresponde às nossas expectativas apaixonadamente apaixonantes, simplesmente nos sentimos enraivecidos e parece que tudo foi em vão. Posso dizer que foi mesmo, do ponto de vida físico e do mundo real. Mas no meu mundo, uma paixão vivida intensamente por mim, mesmo que sem outrém colaborando, vale muito mais do que uma paixonite correspondida facilmente.
Podem, mesmo, me chamar de maluca, de egoísta, de doida varrida. Mas eu gosto de viver os sentimentos, de descobrir as pessoas, de descobrir quem eu sou com as pessoas; de saber até que ponto posso chegar e onde posso ir com os meus sentimentos; a quem posso tocar ou influenciar. Apaixonar-se sozinho também é uma forma linda de paixão. Descobrimos melhor quem somos e no que podemos melhorar. É literalmente inspiração para viver. Apaixonar-se é realmente incrível!

Ilusória

Ela era uma garota esperta na infância. É tudo que consegue lembrar da época, das coisas boas que sua esperteza trazia. Das boas notas da escola, da culpa do vidro quebrado que não era sua, das amizades que vinham pelo seu lanche no saquinho de ursinho. Lembra bem das vezes que teve que conter seu choro, e das várias vezes que, quando pequena, não conseguia disfarçar sua tristeza por ouvir tantas palavras feias de tantas crianças ignorantes e mal educadas. Não aguentava ouvir da família o quanto precisava emagrecer antes de crescer, porque ficaria muito gorda ou porque, se emagrecesse mais velha, ficaria em peles. Era difícil aceitar que as roupas das crianças normais não serviam, e que tinha que usar roupas usadas da irmã mais velha. Sempre se sentiu com uma grande necessidade de ser muito inteligente e engraçada. Sentiu muita vontade de ser a pessoa que queria ser. De certa forma cresceu sendo a pessoa que queria ser, por que sempre fez o que quis, dentro das limitações que tinha. Mas houve um tempo em que não teve mais forças. Houve o tempo em que suas necessidades sentimentais foram sendo expostas sem retorno. Teve que por para fora todos os seus medos e suas culpas, suas decepções e suas lutas, com pânico sem controle e devastador. Uma sanidade distante do conhecimento da maioria das pessoas. Um estado de consciência plena que a fez enxergar todas as realidades a sua volta. Foi possível enxergar tudo aquilo que a fazia temer a vida e a morte; construiu pontes e muros, montou sua fortaleza na abstinência na vida, com fome de viver algo que não sabia o nome. Ansiedade que não se conhece facilmente. Tortura psicológica e automutilação sentimental. Procurando por sentimentos que gostaria de sentir, fantasiava, sentia, experimentava e lamentava sua falta. Sua ilusão da realidade sempre pareceu mais agradável e sensata. Ao mesmo tempo, sentia sempre que estava na ilusão de algo que não tinha, ilusão essa que trouxe sentimentos de abandono, tristeza, solidão, doença. Descobriu que a doença podia ser um escape para a compreensão alheia. Descobriu como encarar sua doença ilusória e sua doença real. Soube como reagir diante de fatos que existiam e daquele que ela mesma criava. Aprendeu a reviver dores e desamores, culpas e temores, e aprendeu que tudo isso é necessário e que, às vezes, é saudável, mesmo que não pareça. Agiu e, para evoluir, luta contra seus próprios medos dentro do universo assustador e misterioso da sua mente. Luta para entender como tudo isso pode ser criado e desfeito, como um poder ou magia que um aprendiz manipula e estuda até dominar. Afinal, toda dor é necessária para compreender a felicidade.

Nova Felicidade


Existem coisas na vida que pedimos a Deus com poucas esperanças, mas sabemos que fará o que for melhor para nós. Encontrei uma Felicidade nova, um novo motivo para sorrir. Encontrei um sorriso nos pensamentos que ultrapassa os limites dos meus lábios. Encontrei um cheiro familiar que nunca senti.

Acreditei que não existia beleza nos meus pensamentos, mas encontrei um brilho radiante depois do que eu senti. Encontrei uma luz que transborda da minha imaginação. Encontrei um motivo para perder noites de sono e me perder em pensamentos. Acredito que bebi uma poção envenenada que me fez perder o controle do dia para a noite.

Ou talvez não. Talvez eu só tenha me encantado com as tuas palavras. Talvez eu só tenha me agraciado pensando no teu abraço. Talvez eu tenha me apaixonado pela sua voz e idealizado você. Mas quer saber? Nunca quis tanto aproveitar cada degrau de um sentimento. Nunca quis tanto saborear cada detalhe de alguém. Hoje eu só quero isso. Tenho uma necessidade imensa de te apreciar. Vontade incontrolável de possuir o dom do teletransporte e sentar do seu lado, mesmo que invisível.
Tem coisas na vida que não consigo entender. Como gostar tanto de alguém que nem conheço? Como posso sentir que conheço a tantos anos, alguém que nunca vi (nesta vida)? Mas tem coisas que não acontecem para serem explicadas. Acontecem para serem vividas. Que o tempo seja infinito quando me perder em teus olhos; que seja terno se for curto. Mas que seja.

Bagagem

Foto: Reprodução
A vida tem o poder de transformar pensamentos. Eu realmente acredito nisso. Cada coisa que acontece traz consigo uma bagagem de experiência, capaz de mudar pensamentos, convicções, ideias e destinos. Ela não mostra nada na cara, ao contrário do que muitos pensam. Ela deixa subentendido para que possamos desvendá-la e conquistar a possibilidade de pegar o tesouro que está escondido sob as areias do tempo. Digo possibilidade, sim, pois não são todos que pegam ele. Apenas os mais aplicados à filosofia da vida, da moral e do aprendizado é que conseguem tê-lo em suas mãos. São vários tesouros, as marcas que ficarão em nossa vida como provas de evolução pessoal e atemporal. Coisas que serão gravadas na alma e no coração, servindo de lições para o bem do nosso caminhar ao longo da eternidade.
Nesta linha de pensamento, me pego pensando nas coisas ruins que acontecem conosco. Ou melhor, nas coisas que nós entendemos como ruins e achamos desnecessárias, muitas vezes, e não damos a devida importância. É natural e humano este raciocínio. Porém é antigo, isso sim é desnecessário. Neste contexto, ficamos pensando em como as coisas nos magoam, nos deixam tristes. Por quê isso comigo? O que fiz para merecer isso? Comum perguntar isso em pensamento, quase todos nós já pensamos assim alguma vez. Poucos, porém, tem o correto entendimento da introspecção necessária nestes momentos, para compreender o que temos feito para que cada coisa ocorra. Acredito, sim, na lei da ação e da reação. Chave fechadura. Metades da laranja. As coisas são como tem que ser, tudo se encaixa. 
Às vezes ficamos pensando que nada que estamos vivendo passará, e digo isso dos momentos bons e ruins. Falo sobre as decepções, mas sobre as alegrias, sobre os momentos bons de verdade. Aprendi que “Isso também passará”, e que nada vai ficar pra sempre como está. Não existe estagnação no Universo. Quem dirá dentro de nós? Não se trata de autoajuda. Trata-se de reflexão. De compreendimento sobre o que temos feito e o que temos aprendido. Tudo ocorre por determinada razão e para um determinado fim chegar, porque tudo, de fato, se renova e traz aquela bagagem, cheia de coisas para nós, que, com certeza, nos despertará a vontade de buscar pelo tesouro cada vez mais, até encontrá-lo e assim partir para o próximo tesouro, sucessivamente e infindavelmente. Vou procurar os meus nas melhores areias que encontrar, com a certeza de que eles me ajudarão a compreender melhor a essência desse Universo misterioso e imenso em que estamos inseridos.